
“Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos
para convidá-los a uma nova etapa de evangelização marcada por esta
alegria e indica direções para o caminho da Igreja nos próximos anos”,
escreveu em sua Exortação Apostólica publicada hoje, o Evangelii
Gaudium do Santo Padre Francisco aos Bispos, Presbíteros, Diáconos às
pessoas consagradas e aos fiéis laicos sobre o Anúncio do Evangelho no
Mundo Atual. “É uma nova evangelização no mundo de hoje, insistindo
nos aspectos positivos e otimismo”, explicou o cardeal Rino Fisichella,
presidente do Conselho Pontifical para a Nova Evangelização e que
admite que o papa é “franco”. “O centro é o amor”, insistiu. “Sem isso, a
Igreja é um castelo de cartas e isso é o nosso maior perigo”,
declarou.
Em seu texto, Francisco apela à Igreja a
“recuperar a frescor original do Evangelho”, mas encontrando “novas
formas” e “métodos criativos”. “Precisamos de uma conversão pastoral e
missionária, que não pode deixar as coisas como elas são.”
Uma parte central de seu trabalho será o de “reformar as estruturas eclesiais” para que “todas se tornem mais missionárias”.
O recado é claro: promover uma “saudável
descentralização” na Igreja, num gesto inédito vindo justamente da
pessoa que representou por séculos a centralização da instituição e
sempre lutou contra repartir poderes. A esperança é de que as
conferencias episcopais possam contribuir para “o sentido de
colegialidade”.
A descentralização apontaria até mesmo
para a abertura de espaços para diferentes formas de praticar o
catolicismo. “O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural e o
rosto da Igreja é multiforme”, escreveu. “Não podemos esperar que todos
os povos, para expressar a fé cristã, tenham de imitar as modalidades
adotadas pelos povos europeus num determinado momento da história”. Para
o papa, teólogos precisam ter em mente “a finalidade evangelizadora da
Igreja”.
Nem o próprio papa estaria isento da
reforma. Sua meta é a de promover uma “conversão do papado para que seja
mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às
necessidades atuais da evangelização”.
A burocracia e a aristocracia da Santa Sé
também precisa ser revista. “Nesta renovação não se deve ter medo de
rever costumes da Igreja não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho,
alguns dos mais profundamente enraizados ao longo da história”.
Bergoglio insiste que prefere “uma igreja
ferida e suja por ter saído às estradas, em vez de uma igreja
preocupada em ser o centro e que acaba prisioneiras num emaranhado de
obsessões e procedimentos”.
Abertura – Um dos pontos
centrais é ainda a abertura da Igreja aos fiéis. “Precisamos de igrejas
com as portas abertas” para evitar que aqueles que estão em busca de
Deus encontrem “a frieza de uma porta fechada”. “Nem mesmo as portas dos
Sacramentos se deveriam fechar por qualquer motivo”, escreveu.
A escolha dos fiéis que deveriam comungar
também é atacado pelo papa. “A Eucaristia não é um prêmio para os
perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos”,
alertou.
Poder – O documento
ainda lança severas críticas a padres e sacerdotes. O papa pede que se
evite as “tentações” do individualismo e alerta que “a maior ameaça é o
pragmatismo incolor da vida cotidiana da Igreja, quando na realidade a
fé se vai desgastando”.
Pedindo uma “revolução de ternura”, o
papa critica “aqueles (religiosos) que se sentem superior aos outros” e
que apenas fazer obras de caridade não seria o suficiente. O papa também
ataca os sacerdotes que “em vez de evangelizar, classificam os outros”,
adotando um “certo estilo católico próprio do passado”.
Bergoglio também ataca os religiosos que
tem “um cuidado ostensivo da liturgia, da doutrina e do prestígio da
Igreja, mas sem que se preocupem com a inserção real do Evangelho” às
necessidades das populações. “Esta é uma tremenda corrupção com a
aparência de bem. Deus nos livre de uma igreja mundana sob cortinas
espirituais ou pastorais.”
As batalhas por poder dentro do Vaticano
também são alvos de ataques do papa contra a Igreja. Ele apela para que
as comunidades eclesiais “não caiam nas invejas e ciúmes”. “Dentro do
povo de Deus, quantas guerras”, lamenta o argentino. “A quem queremos
evangelizar com estes comportamentos?”, atacou, indicando um “excesso de
clericalismo”.
O papa ataca o “elitismo narcisista”
entre os cardeais. “O que queremos? Generais de exércitos derrotados? Ou
simplesmente soldados de um esquadrão que continua batalhando?”,
questionou.
Até mesmo as homilias (sermão feito nas
missas) são alvos de ataque do papa. “São muitas as reclamações em
relação a este importante ministério e não podemos fechar os ouvidos.”
Bergoglio insiste que ela não deve ser nem uma conferência e nem uma
aula. “Temos de evitar uma pregação puramente moralista”.
Um ataque especial vai também aos
religiosos que não se preparam devidamente para as missas. “Um pregador
que não se prepara não é espiritual, é desonesto e irresponsável”,
escreveu. Quanto às confissões, o argentino é ainda mais duro: “não se
trata de uma câmara de tortura”.
Mulher – O papa volta a
defender um maior papel da mulher dentro da Igreja. “Ainda há
necessidade de se ampliar o espaço para uma presença feminina mais
incisiva na Igreja, nos diferentes lugares onde são tomadas decisões
importantes”, defendeu. “As reivindicações dos direitos legítimos das
mulheres não se podem sobrevoar superficialmente”, apontou.
Bergoglio deixa claro a posição da Igreja
contrária ao aborto. “Entre os fracos que a Igreja quer cuidar estão as
crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos,
às quais hoje se quer negar a dignidade humana”, escreveu.
“Não se deve esperar que a Igreja mude a
sua posição sobre essa questão. Não é progressista fingir resolver os
problemas eliminando uma vida humana”, declarou.
Economiae política –
Bergoglio ainda destina uma parte importante de seu texto à situação
mundial e não deixa de atacar o modelo econômico que prevalece. “O atual
sistema econômico é injusto pela raiz”, declarou. “Esta economia mata
porque prevalece a lei do mais forte”.
“Os excluídos não são explorados, mas
lixo, sobras”, atacou. “Vivemos uma nova tiraria invisível, por vezes
virtual, de um mercado divinizado onde reinam a especulação financeira,
corrupção ramificada, evasão fiscal egoísta”. O dinheiro, segundo ele,
deve servir, e não dominar.
Para ele, esse modelo estaria promovendo
uma “crise cultural profunda” nas famílias. “O individualismo
pós-moderno e globalizado promove um estilo de vida que perverte os
vínculos familiares”, alertou.
O papa ainda apela para que a Igreja não
tenha medo de se envolver nos debates políticos e que faça parte da luta
por influenciar grupos políticos para garantir maior justiça social.
Para ele, os pastores tem “o direito de emitir opiniões sobre tudo o que
se relaciona com a vida das pessoas”, escreveu. “Ninguém pode exigir de
nos que releguemos a religião à secreta intimidade das pessoas”,
declarou.
Sua luta contra a pobreza também fica
claro no documento. “Até que não se resolvam radicalmente os problemas
dos pobres, não se resolverão os problemas do mundo”, declarou, fazendo
um apelo aos políticos. Em seu documento, ele volta a defender os “mais
fracos”, os “sem-teto, os dependentes de drogas, os refugiados” e apela a
países que promovam uma “abertura generosa” aos imigrantes. Para ele,
existem “muitos cúmplices” nesses crimes.
O argentino, porém, não deixa de apelar
“humildemente” aos países muçulmanos que garantam a liberdade religiosa
para os cristãos, “tendo em conta a liberdade de que gozam os crentes do
Islã nos países ocidentais”. “Uma adequada interpretação do Corão se
opõe a toda a violência”, defendeu. Bergoglio, porém, insiste na
necessidade de fortalecer o diálogo e a aliança entre crentes e
não-crentes.
Apesar dos desafios, o papa insiste que
os fiéis não devem desistir. “Se eu conseguir ajuda pelo menos uma única
pessoa a viver melhor, isto já é suficiente para justificar o dom da
minha vida”, concluiu.
Copiado de http://montanhasrn.wordpress.com/
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