Número de sacerdotes, porém, aumentou de 13 mil para 22 mil em 40 anos, mas eles se concentram principalmente no Sul do Brasil
Os
números são da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e foram
compilados pela reportagem. E revelam um Brasil dividido: enquanto no
Paraná há um padre responsável por 5,9 mil habitantes, essa média chega a
ser mais de duas vezes maior no Maranhão: 13,7 mil pessoas por
sacerdote. O Estado nordestino, vale lembrar, tem proporção de católicos
bem acima da média nacional - 74% ante 64%.
Lá, a
região com mais falta de padres é o entorno da cidade de Caxias, na
fronteira com o Piauí. São quase 700 mil habitantes, mas só 30 padres
para atendê-los - ou seja, uma média de 21,9 mil habitantes para cada
religioso. O problema se agrava na zona rural, onde há povoados cuja
igreja só recebe missa uma ou duas vezes por ano.
Esse
é o caso de Estiva, um lugarejo com cerca de 30 casas erguido à beira
da BR-316, a 52 km de Teresina. Os moradores dali só veem um padre duas
vezes por ano - no festejo de Nossa Senhora de Fátima e na missa anual,
que neste ano foi rezada em maio. "Os moradores têm de ir para outro
povoado para batizar seus filhos", afirmou a professora Conceição Brito,
que leciona no local. "Agora está mais fácil. Antigamente, já teve
época que, se chovesse, só haveria casamento ou batizado um ano depois",
contou José Ribamar Silva, morador da região.
Equilíbrio.
Ao analisar os dados, é possível distinguir dois perfis de regiões onde
há poucos padres por habitantes. Além de cidades do interior do
Nordeste e seu entorno, como Caxias (MA) e Salgueiro (PE), há municípios
com maior concentração de evangélicos, normalmente na periferia das
grandes capitais. Guarulhos (SP), Nova Iguaçu (RJ) e Duque de Caxias
(RJ) estão nesse grupo. A região com maior proporção de habitantes por
padre no Brasil é justamente Guarulhos, onde há um padre para cada 24,4
mil habitantes.
"Uma das explicações para haver mais
padres no Sul e Sudeste do Brasil é que são os locais com a maior parte
da organização eclesiástica. Mas existe uma preocupação da CNBB no
sentido de trabalhar para uma melhor distribuição dos padres pelo
território", explicou o padre Antonio Manzatto, professor de Teologia da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Crescimento.
Apesar dessa disparidade, os números mostram que nunca houve tantos
padres quanto agora no Brasil. Em 1970, eram 13 mil sacerdotes, número
que pulou para 22 mil em 2010. O período de maior crescimento foi
justamente de 2000 para cá.
"De fato nós hoje temos
um número de padres como nunca tivemos, sobretudo de brasileiros. Até os
anos 1980, metade do clero do Brasil era de estrangeiro, eram padres
missionários", afirmou ao Estado o cardeal arcebispo de São Paulo, d.
Odilo Scherer. Para ele, esse número tende a continuar crescendo nos
próximos anos. "A Igreja precisa continuar a fazer o que sempre fez a
Pastoral das Vocações: zelar para formar bem os jovens, os católicos, as
famílias, para que possam despertar vocações."
Manzatto
tem uma visão diferente desse fenômeno e acredita que a tendência atual
é de queda no número de novos sacerdotes. "O crescimento atual
provavelmente se deve às ações sociais da Igreja nas décadas de 1980 e
1990. Mas hoje a situação da sociedade mudou. Há uma diminuição muito
grande da prática religiosa. Nos tempos futuros, deveremos ver um
decréscimo nesses números." / COLABOROU ERNESTO BATISTA, ESPECIAL PARA O
ESTADO
Nenhum comentário:
Postar um comentário