É
reconhecido não só no país a qualidade das telenovelas brasileiras que
tem grande aceitação em várias partes do mundo como produto de
entretenimento.

Mas o que tem haver este interesse midiatico pela telenovela com a
seca no nordeste brasileiro que é noticiada desde os tempos do Império, e
que traz tantas desgraças aos brasileiros e brasileiras da região?
A atual seca que atinge pouco mais de 15% do território brasileiro
não é comum, é a pior no Nordeste das últimas três décadas. De acordo
com especialistas, é mais intensa e acontece de 30 em 30 anos, em média.
Assim como a seca deste ano, outras também marcaram a história do povo
nordestino. As mais famosas foram as de 1983/84, 1935 e 1887, que
provocaram a morte de quase 500 mil nordestinos. Segundo números do
Ministério da Integração Nacional, 525 municípios da região estão em
situação de emergência, e outros 221 sofrem efeitos da estiagem e
aguardam avaliação da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
Todavia a seca se repete ano a ano e tem causa natural. Daí não se
pode combatê-la e sim conviver com ela. A carência de chuvas é típica de
regiões semi-áridas, e tem se intensificado pelos danos ambientais e a
total desproteção do rio São Francisco e de sua nascente, além do
descontrole no uso da água na irrigação. São outras partes dessa equação
desastrosa que traz tanto sofrimento e morte para as populações mais
pobres.
A indústria da seca e o coronelismo ainda resistem à custa de tantas
vidas perdidas. Sob novos nomes e novos programas, o que vemos é a
continuação de um processo histórico com a perpetuação do sofrimento e
da miséria a favor do lucro de alguns.
Em particular, neste contexto, vejamos o caso de Pernambuco. O Estado
que tem se destacado pelos elevados índices de crescimento econômico, e
pela propaganda exacerbada mostrando uma administração estadual
moderna, com uma gestão eficiente e diferenciada de seus governantes;
esconde a incompetência e a falta de interesse e compromisso político
para dar inicio ao fim do flagelo que atinge hoje 121 municípios (dos
185 existentes) que estão em situação de emergência. Segundo a
assessoria de Comunicação Social da Casa Militar, existem 1.184.824
pernambucanos e pernambucanas (população total próxima a 8 milhões)
afetadas pela estiagem. Dos 121 municípios atingidos, 59 são do Agreste,
56 do Sertão e 6 da Zona da Mata.
As medidas tomadas pelo governo federal são as mesmas de outros anos,
liberação de recursos (anunciou da liberação de 2,7 bilhões de reais
pelo Ministério de Integração Nacional, que nunca chega no destino
final), distribuição de cestas básicas, carros pipas, etc, etc,… Quanto
ao governo estadual foram anunciadas medidas paliativas, populistas,
verdadeiras “esmolas” comparados aos investimentos públicos e privados
de mais de 50 bilhões de reais que estão sendo investidos no Complexo de
Suape. Infelizmente estes anúncios oficiais são insuficientes, pois
faltam medidas de caráter definitivo. São “oportunistas” e contam com o
apoio de lideranças de agricultores e representantes de organizações da
sociedade civil cooptados, que se calam frente à tragédia recorrente,
tornando verdadeiros cúmplices do massacre destas populações invisíveis
aos olhos da sociedade.
Mas o que tem haver a telenovela com a seca? Bem, ao meu ver é a
mobilização social em torno de um tema que diz respeito à vida real das
pessoas é que poderá apontar na direção da solução deste problema
secular. Na telenovela como visto na semana passada, houve uma incrível
mobilização das pessoas, se reunindo em família, entre amigos, em bares,
restaurantes para assistirem pela “telinha”, o destino dos personagens
do drama fictício. Mas porque não mobilizar para acabar em definitivo
com este drama da vida real? Não somente doando alimentos, e roupas, que
muitas vezes não chegam aos que necessitam, mas pressionando
diretamente os governantes, os políticos. Discutindo, estimulando o
debate sobre o drama da seca, nas rádios, televisões, blogs, jornais,
nas entidades de classe, pelos artistas, jogadores de futebol, pelo
povo. Uma certeza que existe é que para acabar definitivamente com o
flagelo da seca só depende da mobilização popular.
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Copiado de: http://www.robsonpiresxerife.com/blog/notas/carminha-e-a-seca-no-nordeste-vale-a-pena-ler/
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