Folclorista morreu há 27 anos e deixou vasta obra literária.
Material em formato digital ficará disponível a pesquisadores
Fernanda Zauli/ G1 RNMaterial em formato digital ficará disponível a pesquisadores
Um acervo com 27 mil cartas de Câmara Cascudo foi digitalizado e será
disponibilizado para consulta a partir de agosto pelo Ludovicus –
Instituto Câmara Cascudo. São correspondências enviadas e recebidas que
revelam os laços de amizade entre Cascudo e pessoas de renome como
Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Assis Chateaubriand, Getúlio Vargas e
Juscelino Kubitschek, dentre tantos outros.
As cartas datam a partir de 1920, quando Câmara Cascudo tinha apenas
20 anos, e estão em ótimo estado de conservação, guardadas e organizadas
no Instituto. A digitalização de todo esse acervo começou em 2010 e o
grande número de volumes fez com que o trabalho demorasse mais que o
previsto. “Nós não tínhamos o número exato de cartas e estimávamos em 15
mil, mas com a digitalização vimos que tínhamos muito mais”, disse a
neta de Cascudo, Daliana Cascudo, responsável pelo Instituto que
funciona na casa onde o professor, historiador e pesquisador morou.
A digitalização foi desenvolvida pela empresa MaisDocs e contou com a
dedicação dos historiadores Rafael Fernandes Pimentel e Joás Souza de
Abreu. “É um trabalho minucioso porque as cartas são muito delicadas e
por isso é um processo demorado”, disse Rafael. Para Joás, a
complexidade estava na identificação dos autores das cartas enviadas a
Cascudo. “Muitas cartas têm apenas uma rubrica e foi difícil identificar
alguns autores. Em muitos casos foi possível identificar os autores ao
ler as cartas”, disse.
Para o diretor da MaisDocs, Leonardo Solha, que entrou como parceiro
do projeto, a realização é perpetuar a obra de Cascudo em formato
digital. “Foi um trabalho bastante complexo, mas que vai perpetuar parte
da obra desse mestre da cultura popular”, disse.
O acervo digital das cartas de Cascudo será lançado no dia 30 de julho, data em que completa 27 anos de morte do folclorista.
Câmara Cascudo
Historiador, estudioso, jornalista, advogado e folclorista, Câmara
Cascudo nasceu em 1898, época em que a capital potiguar se resumia a
poucas ruas e pequena população, como descreve o livro História da
Cidade do Natal, escrito pelo próprio. Hoje, Cascudo é nome de rua, de
avenida, loteamento, agência dos Correios, agência bancária, museu,
biblioteca e livraria – um verdadeiro monumento da cidade.
Em Natal ele nasceu e permaneceu por toda a vida. Morreu em 30 de
julho de 1986. “Ele não quis se mudar de Natal nem para assumir uma
cadeira na Academia Brasileira de Letras, posto sonhado por tantos
escritores e prestígio difícil de alcançar. E se recusou por amor ao
chão, ao local onde nasceu”, lembrou Daliana, neta de Câmara Cascudo.
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