sexta-feira, 5 de abril de 2013

Improviso dita ritmo dentro da MEJC


http://arquivos.tribunadonorte.com.br/fotos/53400.jpgPor Gabriela Freire - repórter

O improviso vem ditando o ritmo do trabalho dentro da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC). Para atender a demanda que não para de crescer, os corredores dos dois andares do prédio estão servindo de enfermaria e o Centro de Recuperação Operatória (CRO) e uma sala de cirurgia estão sendo utilizados como UTI neonatal.

Essa foi a única alternativa encontrada pela equipe para atender a demanda. Com os 20 leitos de UTI neonatal ocupados, pelo menos oito recém-nascidos eram assistidos pela equipe no CRO e na sala de cirurgias até o fim da tarde de ontem. Os bebês que estão lá são, em sua maioria, prematuros ou  nasceram com desconforto respiratório e precisam de oxigênio. "Não é o ideal. Esses bebês correm risco de morte, de contrair infecções e até terem complicações porque o local não é adequado. E isso altera toda a nossa rotina. As cirurgias que deveriam acontecer nessas duas salas estão paradas. Estamos sofrendo com um congestionamento do fluxo", aponta o diretor da MEJC, Kléber Morais.

O motivo, avalia, é a ineficiência do sistema de saúde do estado como um todo. "Os municípios do interior não atendem essas mulheres e mandam para cá. Sem contar também que a população de Natal cresceu muito e as maternidades do município também estão superlotadas". O quadro vem se repetindo nos últimos oito meses, período no qual a maternidade chegou a acomodar mais de 40 pacientes ao longo dos corredores.

A solução vislumbrada pelo gestor, que está na direção da MEJC há 10 anos, seria a criação de um hospital do estado localizado em Natal. "Seria um hospital destinado à saúde da mulher, pois além de um serviço que é prestado de forma mais simples em Mossoró e Pau dos Ferros, a maternidade é o único hospital que dá atenção a mulher fora do período gestacional", afirma.

Corredor vira extensão da enfermaria

Até o fim da tarde de ontem 16 mães, junto com seus filhos e acompanhantes, descansavam nos corredores da Maternidade Januário Cicco, divididas em camas, macas e poltronas. Outras 10 permaneciam na sala de parto, onde não deveriam estar pois já tinham dado à luz. A regra do improviso é a seguinte: a mãe que tem cama divide o espaço com o filho, já as que aguardam a alta médica em poltronas conseguem um berço para os filhos recém-nascidos. Foi o que aconteceu com a dona de casa Alexsandra Chacon Alves, 27.

Ela deu à luz ao quarto filho por volta da meia-noite de quinta-feira. Dividiu uma enfermaria com mais de 20 mulheres até o meio da manhã de ontem e foi transferida para o corredor por volta das 10h30 de ontem. "Está tudo muito cheio", disse.

Alexsandra é de Montanhas, distante 90 km de Natal, e teve um parto normal. Antes de chegar à maternidade passou por Canguaretama (distante 70 km), onde também não recebeu assistência. "Lidamos diariamente com uma média de ocupação que gira em torno de 60% de mulheres vindas do interior do estado. Muitas vezes os partos não oferecem risco e poderiam acontecer nos municípios de origem. Mas como isso não acontece, sofremos com a superlotação", afirma o diretor da MEJC, Kléber Morais.

Outra consequência provocada pela superlotação da Januário Cicco é o desvio de uma de suas principais funções, o ensino. "Nossos profissionais trabalham com um nível elevado de estresse e a superlotação faz com que o ensino seja prejudicado", destaca Kléber Morais.

Rede de atenção à criança tem falha em todas as fases

A superlotação nas maternidades não é o único problema problema identificado na rede de atenção às crianças. A falta de médicos para cuidar das crianças nascidas é outro gargalo da saúde. No futuro, as mães que hoje sofrem, vão enfrentar mais dificuldades, pela escassez de pediatras. A baixa remuneração é a razão para a falta de profissionais no quadro da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap). Segundo apuração, um pediatra em início de carreira ganha, líquido, um salário de R$ 1.157,00 para uma jornada de 20 horas semanais.

No Rio Grande do Norte, dos 4.392 médicos cadastrados no Conselho Regional de Medicina, de acordo com o Censo Médico 2011, a maior parte dos que possuiam especialização médica exerciam  a obstetrícia/ginecologia (210). Os pediatras apareciam em segundo lugar (197).

As escalas de plantões seguem incompletas também pela falta de profissionais. As escalas dos plantonistas nos três maiores hospitais da rede estadual de saúde vêm funcionando com "buracos" e os plantões estão  fechados só até as duas últimas semanas de abril.

Diante desse problema, representantes do Fórum Norte-rio-grandense em Defesa do SUS e outras seis instituições envolvidas com a questão da saúde pública,  resolveram fazer uma vistoria in loco para verificar a situação das três unidades, inclusive com relação às condições de trabalho. Além do Walfredo Gurgel, Santa Catarina e o Deoclécio Marques, também entrou na lista a Unidade de Pronto Atendimento Infantil Sandra Celeste.

Durante a visita foram detectados uma série de problemas prejudiciais ao atendimento, como o não funcionamento da máquina que realiza o teste da orelhinha dentro do Hospital Santa Catarina por estar quebrada há dois meses. O Fórum adiantou que, após a  série de visitas aos serviços pediátricos, entregará um relatório a governadora Rosalba Ciarlini.

Memória

Os meses de novembro e dezembro de 2012 registraram os maiores picos de lotação da Maternidade Escola Januário Cicco.  Foram cerca de 40 pacientes além da sua capacidade de 116 disponíveis. A situação só melhorou em meados de janeiro deste ano com o retorno das atividades das unidades municipais. Maternidade Felipe Camarão e a Maternidade das Quintas, além do Hospital da Mulher Leide Morais passaram a absorver parte da demanda. O problema de receber pacientes além da sua responsabilidade também é visto nas maternidades do município de Natal. Segundo dado dos diretores, cerca de 15% dos atendimentos é de municípios dos arredores da capital.

Texto de http://tribunadonorte.com.br/news.php?not_id=246930
Imagem de http://arquivos.tribunadonorte.com.br/fotos/53400.jpg

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