Será que os professores brasileiros dão aula em várias escolas ao mesmo tempo? Será que os alunos sabem mais português...
Será que os
professores brasileiros dão aula em várias escolas ao mesmo tempo? Será
que os alunos sabem mais português que matemática? O Porvir listou dez
verdades em que as pessoas costumam acreditar quando se trata de
educação e decidiu classificá-las como mito ou verdade. Para tanto,
recorreu ao QEdu, plataforma que entra no ar hoje com dados educacionais
do País organizados de maneira atraente, e convidou o especialista
Ernesto Martins, da Fundação Lemann, para comentar essas hipóteses.
Como
o Porvir adiantou em agosto, o QEdu é um sistema online lançado pela
Fundação Lemann e pela Meritt que permite que qualquer pessoa tenha
acesso fácil e intuitivo a dados oficiais do Ministério da Educação
referentes à Prova Brasil (seus resultados e questionários
socioeconômicos de 2007, 2009 e, em breve, 2011) e ao Censo Escolar –
que, verdade seja dita, já estavam disponíveis, mas o chegar a eles nem
sempre era fácil e cruzar esses dados mais difícil ainda. Nesse ambiente
virtual, será possível comparar desempenhos de cidades e estados, ver a
proficiência dos alunos a partir de suas notas na Prova Brasil e ter
acesso aos contextos em que esses alunos estão inseridos com dados
atualizados do Censo Escolar. Confira!
1. Professores brasileiros dão aula em muitas escolas
Mito. No Brasil, 57% dos professores dão aula em apenas uma escola; 37% lecionam em 2; 5% em 3 e 1% em 4.
Veja no QEdu
Caminho:
Escreva "Brasil" na janela de busca. O site redirecionará para uma tela
em que aparecem várias abas. Selecione a última, chamada "Panorama".
Abaixo, selecione a opção "Professores" para ter informações detalhadas.
Ao lado esquerdo, dentro da janela Perfil, clique em "Trabalho". Uma
aba se abrirá abaixo e clique na opção "Rotina". A pergunta referente ao
número de escolas em que atua é a 21, segunda a ser mostrada na tela.
Análise
do especialista. É muito difícil avaliar o perfil dos professores da
educação básica como um todo. Os professores de educação infantil são
muito diferentes dos professores do ensino fundamental, por exemplo. O
perfil dos professores de língua portuguesa também é diferente do perfil
dos professores de física. A análise específica da condição de trabalho
declarada dos professores de todo o país de língua portuguesa e
matemática dos alunos que fizeram a Prova Brasil mostra que muitos
professores dão aulas apenas em uma escola (principalmente os do 5º
ano).
2. Matemática é o calcanhar de Aquiles dos alunos brasileiros
Verdade.
Se comparados com os resultados de língua portuguesa, os de matemática
são realmente piores. Apenas a título de exemplificação, 10% dos
brasileiros chegam ao fim do 9.º ano com o conhecimento adequado em
matemática. Em português, esse porcentual é de 23%.
Veja no QEdu
Caminho:
Escreva "Brasil" na janela de busca. O site redirecionará para uma tela
em que aparecem várias abas. Selecione a quarta, chamada "Explorar
Estados". Dentro dessa página haverá o percentual de aprendizado de cada
disciplina (português e matemática) em cada um dos estados. Do lado
esquerdo da tela, clique na opção "Disciplina", onde é possível escolher
se serão analisados dados de português ou matemática, e "Etapa", onde
se deve selecionar se as informações serão de 5.º ou 9.º ano.
Análise
do especialista. Os índices de aprendizado em matemática são, de fato,
muito mais baixos do que os de língua portuguesa. Como boa parte das
habilidades em matemática é desenvolvida apenas na escola, isso aponta
um problema no ensino grave.
3. As escolas do Norte e do Nordeste vão de mal a pior
Mito.
Nenhum estado brasileiro piorou seu desempenho em nenhuma das quatro
provas avaliadas (português 5.º e 9.º anos; matemática 5.º e 9.º anos). É
verdade que alguns deles não evoluíram em nada, mas alguns estados do
Norte e do Nordeste vêm se destacando como estados que mais aumentaram
suas notas, como Acre, Ceará, Rondônia e Tocantins. Em muitos casos,
eles estão acima da média nacional.
Veja no QEdu
Caminho:
Escreva "Brasil" na janela de busca. O site redirecionará para uma tela
em que aparecem várias abas. Selecione a quarta, chamada "Explorar
Estados". Para fazer essa comparação, é preciso clicar em "Ativar o Modo
Avançado". Em seguida, na opção de "Ordene os Resultados", selecione
"Evolução". Do lado direito da tela, todos os Estados brasileiros
ficarão listados conforme a evolução no ano e na matéria selecionados.
Por exemplo, selecionando português e 5.º ano, Ceará aparece como o 5.º
Estado com maior evolução. Existe também a opção de estabelecer
comparações entre os estados. Clique uma vez no Acre, Ceará e Tocantins,
depois selecione "Comparar" e então "Abrir". Para cada Estado será
aberta uma caixa que apresenta sua evolução na disciplina selecionada, o
número de matriculados, entre outros dados. Essa mesma operação pode
ser executada para avaliar o ensino da mesma disciplina no 9.º ano,
assim como matemática nos dois anos.
Análise do especialista: Um
ponto muito importante é que médias mais baixas na prova Brasil em uma
região do país não necessariamente apontam que as escolas são as piores,
pois as notas dos alunos não indicam o quanto foi agregado pelas
escolas. No Norte e no Nordeste, a escolaridade e o nível socioeconômico
dos pais são mais baixas, o que está correlacionado a condições mais
insatisfatórias para o aprendizado fora da escola (e que influenciam no
resultado). Apesar de esses estados virem evoluindo de modo
insatisfatório, como no resto do país, algumas redes vêm obtendo um
avanço considerável, em especial do estado do Ceará.
4. É mais fácil ter notas maiores nos anos iniciais do que nos anos finais
Verdade.
Comparativo das notas da Prova Brasil 2007 e 2009 mostra consistência
no resultado melhor no 5.º e no 9.º ano tanto em português quanto em
matemática.
Veja no QEdu
Caminho: Escreva "Brasil" na janela
de busca. O site redirecionará para uma tela em que aparecem várias
abas. Selecione a quinta, chamada "Proficiência". As proficiências em
português e matemática no 5.º e no 9.º ano nas provas de 2007 e 2009
aparecerão em quadradinhos já no alto da tela. Para verificar detalhes
de cada uma das variáveis (disciplinas e anos), basta selecionar a opção
desejada acima dos quadradinhos.
Análise do especialista: O
aprendizado é acumulativo. Portanto, se um aluno sai de uma etapa sem o
aprendizado adequado será ainda mais difícil conseguir concluir a etapa
seguinte com o aprendizado esperado. Como a maioria dos alunos que
conclui os anos finais não adquiriu o aprendizado adequado a essa etapa,
o desafio que é colocado para os anos finais e para o ensino médio
acaba sendo muito alto.
5. A internet já chega em boa parte das escolas do Brasil
Mito.
De acordo com o Censo Escolar 2010, apenas 47% das escolas têm
internet. A banda larga chega a apenas 39% das instituições. No entanto,
entre as participantes da Prova Brasil, que são majoritariamente
públicas, 75% têm acesso à internet.
Veja no QEdu
Caminho:
Escreva "Brasil" na janela de busca. O site redirecionará para uma tela
em que aparecem várias abas. Selecione a última, chamada "Panorama" e vá
para "Censo Escolar". Ao lado, na caixa com os temas relacionados à
infraestrutura, selecione "Tecnologia". Aparecerá, então uma tela à
direita. Selecione "Filtre pelo Universo de escolas", depois escolha a
opção "Todas as Escolas". Abaixo, estarão os números referentes ao uso
de internet e banda larga em todas as escolas do Brasil,
independentemente de terem realizado a Prova Brasil.
Análise do
especialista: As condições de infraestrutura locais têm um grande
impacto sobre esse dado. Não por acaso as taxas mais baixas estão nas
regiões com um grande percentual de escolas em áreas rurais. O requisito
de a escola ter que ter pelo menos 20 alunos para poder fazer a Prova
Brasil exclui uma parcela considerável das escolas rurais, fazendo com
que o dado da Prova Brasil ajude a ilustrar que na área urbana a
internet já é consideravelmente presente nas escolas.
6. Alguns alunos passam anos na escola sem aprender rigorosamente nada
Verdade.
Ao se analisar a escala de proficiência adotada pelo QEdu, é possível
verificar, por exemplo, que 39% dos alunos do 9.º ano têm conhecimentos
insuficientes de matemática. Isso quer dizer que 776.776 alunos no país
não aprenderam quase nada – ou mesmo nada – do que se esperava que eles
tivessem aprendido.
Veja no QEdu
Caminho: Escreva "Brasil"
na janela de busca. O site redirecionará para uma tela em que aparecem
várias abas. Selecione a quinta, chamada "Proficiência". Assim como em
outras páginas, aqui haverá as opções entre 5.º e 9.º anos e as
disciplinas de português e matemática. Selecionando qualquer uma das
opções, aparecerão todas as informações a respeito da eficiência no
aprendizado naquela etapa, naquela série. Também é possível filtrar para
apenas instituições municipais ou estaduais.
Análise do
especialista: Uma análise mais aprofundada sob esse aspecto é difícil de
ser feita pelo fato de haver poucas pesquisas longitudinais no país que
acompanham como o resultado de um aluno evolui ao longo do tempo. Mas o
retrato que os dados apresenta, indicando que muitos alunos do 9.º ano
não têm o aprendizado adequado ao 5.º ano, mostra que muitas redes estão
com dificuldade de agregar o aprendizado mínimo aos alunos.
7. Alunos muito bons não têm oportunidade de aprender mais do que está planejado
Mito.
Também pela escala de proficiência é possível ver que, nas quatro
provas analisadas, há sempre grupos de alunos com conhecimentos acima do
esperado.
Veja no QEdu
Caminho: Escreva "Brasil" na janela
de busca. O site redirecionará para uma tela em que aparecem várias
abas. Selecione a quinta, chamada "Proficiência". Selecione o ano e a
disciplina que deseja consultar e abaixo estarão listados os desempenhos
dos alunos nas últimas avaliações. Se o escolhido, por exemplo, for o
5.º ano e na disciplina de português, será possível ver que o último
registro (da prova de 2009), 8% dos alunos mostraram um aprendizado
avançado, ou seja, sabem mais do que precisariam saber nesse período.
Análise
do especialista: Em muitas turmas, de forma acentuada a partir dos anos
finais do ensino fundamental, existem alunos com diferentes níveis em
relação ao aprendizado. Essa situação exige que o professor consiga
individualizar o ensino, para que alunos em situação pior possam
recuperar o conteúdo e alunos com um nível de aprendizado mais avançado
possam seguir avançando. Os dados ilustram que em boa parte das redes
brasileiras existe um grupo de alunos com um nível de aprendizado
avançado – para alunos de 9º ano, para alguns especialistas, indica um
aprendizado condizente a um aluno com ensino médio completo.
8. Um bom resultado na Prova Brasil significa que o sistema de ensino é bom
Não
necessariamente. É preciso analisar a participação e o número de alunos
que fizeram a prova ao longo de várias edições da Prova Brasil para se
ter dados mais consistentes. Tome-se como exemplo a cidade de Fernão
(SP). Entre os alunos de 5o ano em português, 100% obtiveram resultado
com aprendizado adequado em 2009. Mas note-se que apenas 19 alunos
fizeram a prova. Assim, apenas com base nessa edição, apesar do
resultado unânime, não é possível afirmar se o sistema de ensino é mesmo
muito bom.
Veja no QEdu
Caminho: Escreva "São Paulo" na
janela inicial de busca. Depois clique em "Explore Cidades" e "Ative o
Modo Avançado". Ordene, então, os resultados por "Aprendizado", deixando
a disciplina de português e o 5o ano selecionados. A cidade que teve
melhor qualificação foi Fernão, atingindo 100% de eficiência. Selecione o
município, clique em Abrir, depois clique novamente em seu nome. Uma
página dedicada exclusivamente ao município será aberta e nela será
possível verificar dados mais específicos da cidade, que podem ajudar
numa análise mais aprofundada.
Análise do especialista: O
resultado da Prova Brasil reflete o aprendizado dos alunos e não apenas a
qualidade das escolas e das redes de ensino. O envolvimento dos pais
nos estudos e as condições para o estudo em casa também impactam o
resultado. Além disso, é importante se atentar a validade do dado. Se a
taxa de participação é baixa, talvez os alunos que fizeram a prova não
representem o conjunto de alunos da escola, assim como se o número de
alunos que fez é baixo, o número de itens e provas aplicados podem não
ser suficientes para dar robustez ao resultado.
9. Neste País, a violência na escola é generalizada
Mito.
Quando alunos, professores e diretores responderam a questões sobre
violência no Censo Escolar 2010, eles chegaram a relatar casos de
violência na escola, mas esses números estão muito longe de ser
generalizados. Agressões físicas de aluno para professor, por exemplo,
foram confirmadas por 8% dos diretores e negadas por 92%.
Veja no QEdu
Caminho:
Escreva "Brasil" na janela de busca. O site redirecionará para uma tela
em que aparecem várias abas. Selecione a última, chamada "Panorama".
Para entender essas questões, é possível selecionar tanto "Professores"
quanto "Alunos" quanto "Diretores". Ao lado esquerdo de cada uma dessas
possibilidades estarão as questões respondidas. Abaixo de
"Anormalidades", selecione a opção "Violência na Escola". Dentro dela
você poderá ter as respostas sobre agressão física, agressão verbal,
armas, atentado à vida, furto e roubo.
Análise do especialista: É
importante olharmos o cenário da violência em cada tipo de violência
individualmente, algo que o QEdu, por meio das respostas dadas nos
questionários da Prova Brasil, permite. Alguns estudos já apontaram que o
clima escolar é um problema em grande parte das escolas brasileiras. Os
dados de agressão verbal relatados por diretores e professores parecem
corroborar isso. Mas, quando analisamos os casos de agressão física, os
relatos apontam que isso é algo que ocorre apenas em pequena parcela das
escolas.
10. O Brasil ainda tem muito o que melhorar na educação
Verdade.
Meta do movimento Todos Pela Educação para 2022 é de 70% de nível
adequado em português e matemática, no 5.º e no 9.º ano. Até agora, na
etapa e disciplina que o país vai melhor, que é português no 5.º ano,
alcançou apenas 32% dos alunos com aprendizado adequado.
Veja no QEdu
Caminho:
Escreva "Brasil" na janela de busca. O site redirecionará para uma tela
em que aparecem várias abas. Selecione a quinta, chamada
"Proficiência". Em qualquer uma das opções selecionadas, seja português
ou matemática, em qualquer um dos anos, a meta a ser alcançada em 2022 é
de 70% de conhecimento em cada uma das disciplinas.
Análise do
especialista: Os resultados mostram que poucos alunos estão tendo o seu
direto ao aprendizado garantido. Por outro lado, vemos redes escolares,
como a de Foz do Iguaçu (PR) e a de Pedra Branca (CE), que, em um
período de quatro anos, conseguiriam dar um grande salto nesse sentido,
sendo um alento e indicando caminhos que podem ser seguidos. De qualquer
forma, grandes avanços passam por mudanças estruturais, como uma melhor
formação e plano de carreira de professores e documentos que orientem
mais as escolas do que se espera que todos os alunos brasileiros devem
aprender.
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